Recentemente descoberto por pesquisadores do “Dana-Farber Cancer Institute” e da “Harvard Medical School”, o hormônio Irisina (proteína conhecida como Fndc5) gerou fortes indícios de uma relação intrínseca entre o tecido muscular e o tecido adiposo, em que deriva da substância PGC1-alfa, produzida por estímulos de exercício muscular em que há demanda energética.

A PGC1-alpha está relacionada com muitos benefícios para o organismo mediados pelo exercício físico. Os cientistas descobriram por meio de testes que camudongos criados para produzir quantidades sobrenaturais de PGC1-alfa em seus músculos eram tipicamente resistentes à diabetes e à obesidade, considerando-se a idade, assim como indivíduos que fazem exercício físico regularmente. Significativamente, a Irisina (produto de uma metabolização da substância em negrito), por meio de sinalização celular, promove a transformação do tecido adiposo branco (TAB) em tecido adiposo marrom (TAM), processo que tem sido denominado de “browning”. Tal processo leva em consideração pesquisas recentes que apontam a existência de um tipo de tecido adiposo intermediário, entre o TAB e o TAM. A importância disso está em manter um equilíbrio da quantidade de gorduras dentro de cada célula adiposa branca, evitando processos inflamatórios decorrentes da hipertrofia desse mesmo tipo celular (desencadeado por hipóxia e morte celular, sobretudo), e, com esse equilíbrio, manter a homeostase dos processos regulados pelo TAB, como sensibilidade insulínica, apetite, balanço energético e angiogênese (fatores esses relacionados com diversas doenças crônicas).
Uma publicação científica do dia 7 de janeiro deste ano na revista Nature Medicine, realizada por pesquisadores brasileiros da Universidade Federal do Rio de Janeiro, estabelece uma relação entre o Alzheimer e a Irisina, em que foi observado que pacientes com tal doença neurodegenerativa tinham baixos níveis de Irisina no cérebro, assim como camudongos utilizados como cobaias em testes. Além disso, foi descoberto que a reposição de Irisina em camudongos era capaz de reverter o quadro clínico do Alzheimer. De uma mais específica, a Irisina promove neuroplasticidade, com a criação de novas sinapses, o que é de suma importância a sedimentação de novas informações em diversas áreas corticais. Esses estudos cedem base científica para se identificar a relação entre a prática regular de exercícios e a memória.

Os dois trabalhos apresentados elucidam a importância do exercício físico para diversos processos metabólicos do nosso organismo, que envolvem tanto o bem estar físico e mental como a boa memória. Se antes os benefícios do exercício não possuíam explicação científica plausível, hoje novos trabalhos são elaborados e publicados a cada instante, sendo a prática de esportes colocada como fator indispensável na prevenção e tratamento de doenças crônicas. Ademais, tais descobrimentos abrem margem para a elaboração de medicamentos que disponibilizem a irisina exógena no nosso organismo, assim como é feito com a insulina para diabéticos. E, nesse contexto, o exercício físico é o caminho mais viável para a obtenção de irisina de uma forma natural e gratuita.
Por fim, é importante celebrar a conquista, de uma forma geral, da pesquisa brasileira, enaltecendo o trabalho eficiente dos profissionais da UFRJ. É um grande feito para o desenvolvimento científico e tecnológico do país.
Referências bibliográficas:
https://www.nature.com/articles/s41591-018-0275-4
https://well.blogs.nytimes.com/2012/01/11/exercise-hormone-helps-keep-us-healthy/
Trabalho da UFRJ: doi 10.1038/s41591-018-0275-4
http://www.cienciasdasaude.famerp.br/index.php/racs/article/view/135